Quando cidade e literatura se cruzam

Uma caminhada por Curitiba pode significar um passeio pelos cenários de contos e crônicas de autores curitibanos consagrados como Dalton Trevisan, Jamil Snege e Paulo Lemins­ki. Ou então um encontro com os lugares que inspiraram a poetisa Helena Kolody – cruz-machadense de nascimento, mas curitibana de coração.

“Aliás, não é preciso sair da região central para conhecer o ponto que Snege considerava o coração da capital paranaense, a igreja que Kolody frequentou durante toda sua vida, a livraria que Trevisan frequenta para manter contato com o mundo exterior ou as ruínas que nasceram ruínas – e inspiraram uma reflexão de Leminski.”

“No mapa a seguir o leitor encontra uma série de locais que marcaram a vida e a obra dos escritores e poetas que tiveram Curitiba como fonte de inspiração. Que tal passear pela cidade sob a perspectiva desses quatro artistas?”

Infográfico: Locais de inspiração de Helena Kolody em Curitiba

1. Instituto Erasmo Pilotto

Professora apaixonada pelo ofício, Kolody deu aulas de biologia no Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto – à época chamado Instituto de Educação do Paraná. A poeta lecionou na segunda – e atual – sede da escola, localizada na Rua Emiliano Perneta, nº 92, na esquina com a Rua Voluntários da Pátria. O prédio foi inaugurado em 1922 e é tombado pelo patrimônio histórico.

2. Praça Rui Barbosa

Inaugurada em 1913 como Praça da República, a Praça Rui Barbosa foi “vizinha” de Kolody por pelo menos 30 anos. Mais do que isso, sempre esteve no roteiro de suas caminhadas pela região central, além de ter inspirado seus textos – como na vez em que viu uma pena de pombo cair na calçada* e escreveu, em um lenço de papel:

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* Informação dada ao jornalista Aramis Millarch em entrevista publicada em março de 1988.

3. Igreja Bom Jesus dos Perdões

Autodeclarada uma pessoa de espírito religioso, a poeta tinha o hábito de ir à igreja todos os domingos. Desde que chegou a Curitiba, em 1927, a igreja em questão era a Paróquia Bom Jesus dos Perdões, da Fraternidade Franciscana, fundada em 1909, de frente para a Praça Rui Barbosa.

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Infográfico: Locais de inspiração de Dalton Trevisan em Curitiba

4. Praça Osório

A Praça Osório e seu relógio aparecem no texto “Em busca de Curitiba perdida”, no qual Dalton enumera aspectos e locais da “sua” Curitiba. “Eu sou da outra, do relógio na Praça Osório que marca implacável seis horas em ponto”. Quando escreveu a primeira versão da crônica, em 1946, o relógio ainda era o primeiro modelo instalado ali, que datava de 1914. Na década de 1950, ele foi substituído por outro e, em 1993, uma réplica do modelo original foi instalada.

5. Largo da Ordem

Na mesma crônica, o autor diz que sua Curitiba é a “do bebedouro na pracinha da Ordem, onde os cavalos de sonho dos piás vão beber água”. Ponto central do Largo da Ordem, em frente à Igreja da Ordem, o bebedouro foi erguido no século 18 e era onde tropeiros e fazendeiros que passavam por ali levavam seus cavalos e mulas para beber água.

6. Livraria do Chain

Vivendo uma vida reclusa há mais de 40 anos, Dalton usa a Livraria do Chain, uma das poucas livrarias de rua de Curitiba que resistiram ao tempo, como um ponto de contato com o mundo exterior. É ali que ele recebe encomendas, pedidos de autógrafo e recados – inclusive os de sua editora.

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Infográfico: Locais de inspiração de Jamil Snege em Curitiba

7. Boca Maldita

De acordo com Miguel Sanches Neto, que escreveu sobre Snege para a coleção Roteiro Literário, da Biblioteca Pública do Paraná, a Boca era o que resumia Curitiba para o escritor: era ali que aconteciam os encontros e as conversas sobre política e literatura. Assim, ela acaba aparecendo com recorrência em seus textos.

8. Rua XV

Saindo da Boca Maldita, o caminho natural é andar pelo calçadão da Rua XV de Novembro, inaugurado em 1972. Tão natural, aliás, que Snege comparou o local a um rio, pelo qual o pedestre “pode se deixar escorrer preguiçosamente” – assim como suas transversais. O escritor também chamou a Rua XV de “Avenida Paulista do Paraná”.

9. Biblioteca Pública

A Biblioteca Pública do Paraná foi um refúgio – e porta de saída de Curitiba e entrada para o Brasil e o mundo – para muitos escritores da cidade, inclusive para Snege. Para o autor, o local também era um porto e aparece nas suas crônicas como ponto em que alguns personagens começam a explorar a cidade, como em “Juventud”.

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Infográfico: Locais de inspiração de Paulo Leminski em Curitiba

10. Templo das Musas

A sede do Instituto Neo-pitagórico, criado pelo poeta simbolista Dario Vellozo, era motivo de fascínio para Leminski – talvez por contar com uma biblioteca com aproximadamente 10 mil volumes, mas também pela identificação com Vellozo e com o simbolismo. Tanto que escreveu:

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11. Teatro Paiol

Um dos palcos mais intimistas de Curitiba, o Teatro do Paiol foi inaugurado em 27 de dezembro de 1971 com um show de Vinícius de Moraes, Toquinho, Maria Medalha e Trio Mocotó. Poucos anos mais tarde, em 1975, foi ali que Leminski apresentou suas composições ao público pela primeira vez.

12. Ruínas de São Francisco

“De todos os tipos de edifícios, só um me interessa, a ruína. É a ruína que dá sentido à cidade”, escreveu o poeta em “Ler uma cidade: o alfabeto das ruínas”. As de São Francisco chamavam ainda mais a atenção de Leminski por já terem nascido ruínas, ou seja, por serem os resquícios de uma construção abandonada, tanto que ganharam um texto para si “Ruínas minhas de S. Francisco”.

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Texto: Vivian Faria, especial para HAUS; Infografia e ilustração: Osvalter Urbinati